quinta-feira, junho 08, 2006

 

Burrocracias

Estava uma tórrida tarde de Verão, apesar deste ainda não ter oficialmente começado, os termómetros de rua marcavam para cima de trinta e cinco graus, a parca roupa que trazia ainda assim teimava em colar-se-me ao corpo; no carro o calor era verdadeiramente insuportável, dando no mínimo para fritar um ovo no capot. Chego ao Campo Grande, lugar da repartição camarária, e vejo-me doida para estacionar o carro. Ao fim de quatro voltas, lá acho um buraco onde enfiar o bólide.
A derreter, entro no impessoal edifício cinzento da Câmara, onde sou bafejada com um agradável ar condicionado, a par duma menos agradável segurança, que me informa onde devo dirigir-me para tratar do que quero com meia dúzia de palavras secas, cuspidas com desdém – talvez o facto da minha indumentária de praia, contrastando com a sua apertada farda também não tenham ajudado muito, admito.
Dentro da dita repartição, novo segurança diz-me que, para o que venho tratar, qualquer das 5 secções à disposição servem menos a primeira, pelo que me posso servir de qualquer senha. «Estranho», pensei, «Se é de facto assim, porque existem cinco divisões com nomes diferentes?» Mas lá tirei uma “ao calhas” e sentei-me à espera.
Meia hora depois, chamam-me. Obviamente, NÃO servia qualquer senha, e eu estava na secção errada, pelo que tive de tirar nova senha, perante o olhar impávido do segurança-aldrabão, e preparar-me para nova espera.
Quando chega a minha vez, despacham-me em cinco minutos, dizendo que aquilo está «prestes a fechar», e de qualquer maneira não era bem àquela repartição que me deveria dirigir, pelo que me aviam com um papelucho escrevinhado para novo gabinete, agora no piso de cima.
Nova senha, nova viagem. Uma vez na mesa 2, sento-me em frente à Dona Adelaide, cabelo cortado rente ao pescoço, óculos de armação dourada, braços rechonchudos e gorduchos, com pregas, e uma camisola sem mangas, tudo envolto num ar de muito poucos amigos (à semelhança da colega da recepção – se calhar é requisito para se trabalhar em serviços chatos, ser-se chato também).
A Dona Adelaide ouve, sem a mínima paciência, ao que venho, e com um gesto de enfado empurra na minha direcção um formulário para preencher. Com um suspiro de desagrado diz-me que posso fazê-lo à sua frente, uma vez que não há mais ninguém à espera, mas nem por isso me presta mais atenção. Tanto assim, que mal acabo de preenchê-lo o volta de novo para mim, dizendo que está todo mal, as letras careciam ser maiúsculas (apesar disso não estar lá escrito, nem ela mo ter dito antes). Dá-me outro formulário para preencher, enquanto comenta com a colega do lado, igualmente encalhada, gorda e mal disposta, o final da novela da noite que se avizinha.
Quando por fim lhe entrego o maldito papel preenchido, exausta de tanta bu(r)rocracia, a Dona Adelaide lá faz o obséquio de o carimbar e me informar que daqui a duas semanas receberei um postal em casa contendo uma autorização para que torne ali a levantar o documento pretendido.Bin Laden: Se algum dia te apetecer bombardear Lisboa, vai ali ao Campo Grande, e quando sobrevoares um edifício com uma grande bandeira nacional, a dizer «a Câmara apoia a Selecção», larga aí os teus explosivos, ok?

domingo, junho 04, 2006

 

Dia Mundial da Criança

A minha mãe foi operada dia 31 de Maio. No dia seguinte fui vê-la, e - enquanto esperava na sala das visitas, que partilhava com recém papás - ouvi uma conversa deliciosa, que passo a transmitir;
O pai, de origem angolana, ia recebendo sucessivas felicitações de amigos e familiares, pelo seu primeiro filho. À pergunta (da praxe) das parecenças, dizia ele ao telemóvel: «O puto é parecido comigo sim, preto como eu, e nas orelhas também!» E ria muito.
Em homenagem a todas as crianças, fica então este post do filho-que-saía-ao-pai, a começar no tom de pele, e até nas orelhas!!

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