quarta-feira, agosto 09, 2006

 

Porque nem só de futebol vive o povo...

De vez em quando adoro ver o «Jornal Nacional». É como comprar a «Maria» e convidar uns amigos a passar depois do jantar para dar uma leitura em conjunto, é noitada garantida! Com a vantagem do «Jornal Nacional» ser diário, em directo, e de portanto aumentar exponencialmente a tentação de diversão.
Anteontem, as notícias abrem com Lourdes Baeta (a substituta de verão da Manuela Moura Guedes, com os olhos igualmente arregalados e a bocarra extravagantemente pintada e muito aberta, pronta a servir-nos o «drama» ou o «horror» do dia) e o «gang sinistro» que entrou no "Pachá" - uma discoteca de pastilhados em Ofír - e «gerou o pânico», mostrando em seguida as almejadas «imagens exclusivas» onde anda tudo à paulada no meio da música de martelos. Uma machete de relevo, sem dúvida, sobretudo agora, com meio país a arder e no Médio Oriente civis a morrerem que nem tordos. Mas é compreensível, que dar todos os dias a mesma notícia seja uma chatice, afinal, no meio do fumo não se vê nada, terras queimadas são feias e os bombardeamentos em Gaza fazem interferência com as câmeras de tv e não deixam ouvir como deve ser.
Ontem, o alarme era dado pelo cabeçalo «o calor mata em Portugal», e saem mais uma revoada de velhotes, a serem entrevistados sobre as comadres e compadres que já morreram devido ao calor - segundo as estatísticas cerca do dobro do ano passado - até que vem um médico ao primeiro plano dar aqueles conselhos do «beba muita água» , «resguarde-se do sol nas horas de maior calor» e por aí adiante.
Até que as notícias empolgantes foram interrompidas, as banalidades dos fogos e do Líbano ultrapassadas, e finalmente foi revelada um boa nova (que isto do telejornal não são só desgraças, apesar de tudo indicar o contrário): Francis Obikwelu venceu a medalha de ouro nos 100m estabelecendo novo recorde europeu («...isto apesar da sua arrancada ter sido a pior de sempre...» sentenciava o comentador, uma aposta que depois de COmunicação Social tirou uma pós-graduação nos 100m/barreiras, não?...), e João Vieira ganhou a medalha de bronze ao ter ficado em terceiro lugar nos 20kms de marcha.
Pode ser uma coisa meia chochinha, para quem ache que só o futebol é desporto, e esteja em pulgas para ver encetada a temporada, mas para o País deveria ser um orgulho tão grande como ver a Selecção de futebool bem classificada no Mundial...

 

Errata II

Estando há três dias com febre, dores musculares e nas costas, a garganta e os ouvidos inflamados e constipada, e uma vez que por motivos burocráticos ainda não me foi designado um médico de família no centro de saúde da minha área de residência, dirigi-me na segunda feira passada ao Hospital de S.José para ver do que se tratava.
Sob um sol escaldante, trepei aquelas ruelas todas que desembocam no Rossio. Chego às Urgências, e ponho-me numa fila que diz «Atendimento de doentes». Espero. Quando chega a minha vez, dizem-me que primeiro devia ter tirado uma senha e ido à triagem. Aviso? Não existia, foram quinze minutos perdidos para nada.Tiro uma senha, sento-me numa cadeira perneta e sem espaldar, quando chega a minha vez entro numa sala onde o chão está respingado de sangue seco, uma médica faz-me meia dúzia de perguntas, preenche uma ficha com cruzes, chama-me «doente de grau III» e manda-me inscrever na fila onde estava inicialmente. E eis que começa tudo do início...
Devidamente inscrita e paga a taxa moderadora de oito euros e tal, vou para a sala de espera, uma divisão escura e desconfortável, onde não há lugares que cheguem para o número de gente que está à espera, o cheiro é insuportável (diz-me a minha mãe, que eu não cheiro nada, tenho o nariz entupido, graças a deus) e uns escarram para o chão, outros tossem sem pôr a mão à frente...quer dizer, a pessoa fica com a impressão que sairá de lá dez vezes mais infectada do que entrou!
Resolvo então ir buscar uma garrafa de água às máquinas. Não há. Esgotou. Volto a sentar-me, e espero uma meia hora, até me chamarem para o «balcão das mulheres». Nesta altura a aspirina já não fazia qualquer efeito, a cabeça andava à volta e as têmporas latejavam com os trinta e muitos graus de temperatura que tinha.
Seguindo as setas, os «balcões» são, nada mais nada menos que umas tendas de campanha montadas nos salões do hospital, tipo Cruz Vermelha em missão humanitária no Kosovo, onde as pessoas são enfileiradas e observadas de forma mais ou menos colectiva.Feitas as perguntas da praxe, e como o termómetro se recusava a passar dos trinta e seis apesar de eu ter a testa a arder, receitaram-me duas folhas de análises para fazer, mais um raio X ao tórax.
Nova corrida, nova viagem, que é como quem diz, novo departamento, mais filas de espera. Nas análises então, batemos mais um recorde de paciência, uma vez que a enfermeira estava vendo «Laços de Família», a novela da tarde, e só se deu ao trabalho de me picar no intervalo daquela (quanto profissionalismo, hem?...)
E torná-mos à sala de espera inicial, tendo olhado para as moscas durante mais uma horita, para não perder a vez, já que ninguém se deu ao trabalho de nos dizer que aquilo daria tempo para ir almoçar por exemplo, se contarmos que a hora de entrada foi meio dia e meia e já íamos nas quatro...
Antes de me chamarem ao balcão, ainda tivemos oportunidade de presenciar um bêbado a vomitar o chão da sala duas vezes seguidas, e um seropositivo indigente a pedir dinheiro com o corpo todo em chaga, até o segurança desligar o telemóvel e o vir pôr na rua.
Quando voltou a chegar a minha vez, acho que já não via uma médica, mas duas ou três tal era o estado de delírio e vontade de ir para casa e me deitar num sítio limpo e sossegado. Porque não sei se já mencionei, mas o hospital estava em obras, e os martelos pneumáticos pareciam perfurar-me a cabeça, a cada buraco que faziam.
Avaliados os resultados, chegou-se à conclusão que eu era uma pessoa super saudável e com um estado de saúde bestial, que não se percebia porque me sentia tão maldisposta, mas que então era melhor tomar duas ou três aspirinas por dia e, se ao fim duma semana não passasse, ir a um médico.Nesta altura eu já deitava fogo pelo nariz, estava pronta a descompor a mulher de bata branca de cima a baixo, mas só me descontrolei mesmo quando ela propôs que esperasse mais um pouco para levar uma injecção intra-muscular «a ver se era disso»...Arrastei a mãe dali para fora, não sem antes ir para outra fila pagar mais doze euros pelos exames, para não haver multibanco, para galgar mais seis lanços de escadas a pé, que tambémm não havia elevador, para tornar a uma porra duma fila, e entregar o dinheiro e ir embora, arre!
Não quero parecer demasiado refilona, mas não me parece que este seja o tratamento adeuqado que as pessoas devam receber quando se dirigem a hospitais ou centros de saúde. E, pela cara de muita gente que ali estava, não me parece que tenha sido «um dia de azar»...

 

Errata

Aqui há um par de semanas, antes de ir de férias, fui verbalmente admoestada por uma tia, por ter sido tão severa na minha avaliação para com os serviços públicos de saúde portugueses (vide SNS: Serviço Nacional de Sadismo) . Curto e grosso, foi-me diagnosticada uma «burguesite aguda», ao que parece apanágio exclusivo das filhas únicas e mimadas, completamente lerdas sobre os aspectos mundanos da vida e a quem tudo corre rigorosamente bem, sem ser preciso levantar uma palha.
Pois venho por este meio rectificar o que escrevi antes, e assim corrijo: os serviços de sáude públicos portugueses não são maus, são péssimos. E não existe qualquer tipo de snobismo ou racismo social nesta observação, simplesmente acho inacreditável que ninguém se revolte (publicamente, quero dizer, porque já ouvi várias pessoas queixarem-se do mesmo, entre amigos) contra o valor de impostos que pagamos comparativamente à forma como são investidos/aplicados em áreas estruturais como a Saúde, Justiça ou Educação.
Nas duas últimas, acho que é mais ou menos do senso comum - basta entrar num liceu público «do século passado» que as salas com gelosias partidas, janelas empenadas, tectos apodrecidos a cair e ginásios com balneários cheios de infltrações são paisagens comuns. (Para os mais cépticos, o Pedro Nunes é um desses sítios,e o Rainha Dona Amélia chegou a um estado de degradação tal, que encerrou).
Quanto à Justiça, enfim - não é preciso ter nenhum processo em litígio, ligar a televisão na hora do telejornal e prestar o mínimo de atenção é suficiente para nos darmos conta dos séculos que demora cada resma de papelada a sair dum tribunal (pior agora que o Governo resolveu diminuir as férias judicais e os magistrados, numa de fazerem pirraça, adiaram os julgamentos todos para o começo das aulas, donde, ficou tudo em águas de bacalhau e a ideia de «menos férias, mais despacho», foi por água abaixo...)
Na saúde, basta experimentar um hospital público quando se está doente;

 

Viagens pela nossa terra

Nestas últimas férias grandes-grandes (quero dizer, mesmo enormes, com 3 meses), já não estudante mas ainda a semanas de me tornar numa «advogada-estagiária», entalada naquela categoria magnífica de «recém-licenciada», que significa algo como já ter idade para trabalhar mas estar à espera que a silly-season acabe, decidi-me por ficar aquém fronteiras, aproveitando para assim poupar uns trocos e conhecer um bocado melhor a costa sul do país;
Assim, terminada uma semaninha de papo para o ar em Vilamoura, enfiámos malas, roupas, bolas e enlatados para dentro da mala do carro e fizemo-nos à estrada.
Começando por dormir em Lagos, numa residencial mesmo no centro com uma vista esplêndida sobre a ria, explorámos no dia seguinte as grutas da praia e à noite metemos o nariz nos mil e um bares que existem um pouco por todo o centro.
No dia seguinte seguimos para a ponta de Sagres, onde discutimos filosoficamente se seria ali ou em Peniche a ponta mais Ocidental da Europa, almoçámos num bar de surfers muito giro que havia à entrada da vila e íamos levantando voo de tarde, no Martinhal, praia eleita pelos praticantes de windsurf (tivera sabido antes, evitaria horas de rabo para o ar a escavar uma trincheira na areia para me abrigar da ventania...!)
Nessa noite já dormimos na costa Vicentina, em Aljezur, que é uma terra pacata ainda em domínios algarvios, onde se passa pouca coisa, mas as praias são muito bonitas - Arrifana, Amoreira ou Monte Clérigo, por exemplo.
No último dia, dormimos em Vila Nova de Mil Fontes, que por aquela altura já se enchia de pessoal para o Sudoeste, e passámos a manhã no Malhão, visitando também a (famosa) praia da ilha do Pessegueiro - a da música do Rui Veloso - depois duma sardinhada em Porto Covo.
O pôr do sol foi visto em São Torpes, com os moínhos de Sines como pano de fundo.
A minha mãe diz que se devem guardar sempre coisas para ver duma próxima vez como garantia da vontade de voltar. A mim, ficaram-me «entalados» Melides, Comporta e o Meco.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?