quarta-feira, agosto 09, 2006

 

Errata II

Estando há três dias com febre, dores musculares e nas costas, a garganta e os ouvidos inflamados e constipada, e uma vez que por motivos burocráticos ainda não me foi designado um médico de família no centro de saúde da minha área de residência, dirigi-me na segunda feira passada ao Hospital de S.José para ver do que se tratava.
Sob um sol escaldante, trepei aquelas ruelas todas que desembocam no Rossio. Chego às Urgências, e ponho-me numa fila que diz «Atendimento de doentes». Espero. Quando chega a minha vez, dizem-me que primeiro devia ter tirado uma senha e ido à triagem. Aviso? Não existia, foram quinze minutos perdidos para nada.Tiro uma senha, sento-me numa cadeira perneta e sem espaldar, quando chega a minha vez entro numa sala onde o chão está respingado de sangue seco, uma médica faz-me meia dúzia de perguntas, preenche uma ficha com cruzes, chama-me «doente de grau III» e manda-me inscrever na fila onde estava inicialmente. E eis que começa tudo do início...
Devidamente inscrita e paga a taxa moderadora de oito euros e tal, vou para a sala de espera, uma divisão escura e desconfortável, onde não há lugares que cheguem para o número de gente que está à espera, o cheiro é insuportável (diz-me a minha mãe, que eu não cheiro nada, tenho o nariz entupido, graças a deus) e uns escarram para o chão, outros tossem sem pôr a mão à frente...quer dizer, a pessoa fica com a impressão que sairá de lá dez vezes mais infectada do que entrou!
Resolvo então ir buscar uma garrafa de água às máquinas. Não há. Esgotou. Volto a sentar-me, e espero uma meia hora, até me chamarem para o «balcão das mulheres». Nesta altura a aspirina já não fazia qualquer efeito, a cabeça andava à volta e as têmporas latejavam com os trinta e muitos graus de temperatura que tinha.
Seguindo as setas, os «balcões» são, nada mais nada menos que umas tendas de campanha montadas nos salões do hospital, tipo Cruz Vermelha em missão humanitária no Kosovo, onde as pessoas são enfileiradas e observadas de forma mais ou menos colectiva.Feitas as perguntas da praxe, e como o termómetro se recusava a passar dos trinta e seis apesar de eu ter a testa a arder, receitaram-me duas folhas de análises para fazer, mais um raio X ao tórax.
Nova corrida, nova viagem, que é como quem diz, novo departamento, mais filas de espera. Nas análises então, batemos mais um recorde de paciência, uma vez que a enfermeira estava vendo «Laços de Família», a novela da tarde, e só se deu ao trabalho de me picar no intervalo daquela (quanto profissionalismo, hem?...)
E torná-mos à sala de espera inicial, tendo olhado para as moscas durante mais uma horita, para não perder a vez, já que ninguém se deu ao trabalho de nos dizer que aquilo daria tempo para ir almoçar por exemplo, se contarmos que a hora de entrada foi meio dia e meia e já íamos nas quatro...
Antes de me chamarem ao balcão, ainda tivemos oportunidade de presenciar um bêbado a vomitar o chão da sala duas vezes seguidas, e um seropositivo indigente a pedir dinheiro com o corpo todo em chaga, até o segurança desligar o telemóvel e o vir pôr na rua.
Quando voltou a chegar a minha vez, acho que já não via uma médica, mas duas ou três tal era o estado de delírio e vontade de ir para casa e me deitar num sítio limpo e sossegado. Porque não sei se já mencionei, mas o hospital estava em obras, e os martelos pneumáticos pareciam perfurar-me a cabeça, a cada buraco que faziam.
Avaliados os resultados, chegou-se à conclusão que eu era uma pessoa super saudável e com um estado de saúde bestial, que não se percebia porque me sentia tão maldisposta, mas que então era melhor tomar duas ou três aspirinas por dia e, se ao fim duma semana não passasse, ir a um médico.Nesta altura eu já deitava fogo pelo nariz, estava pronta a descompor a mulher de bata branca de cima a baixo, mas só me descontrolei mesmo quando ela propôs que esperasse mais um pouco para levar uma injecção intra-muscular «a ver se era disso»...Arrastei a mãe dali para fora, não sem antes ir para outra fila pagar mais doze euros pelos exames, para não haver multibanco, para galgar mais seis lanços de escadas a pé, que tambémm não havia elevador, para tornar a uma porra duma fila, e entregar o dinheiro e ir embora, arre!
Não quero parecer demasiado refilona, mas não me parece que este seja o tratamento adeuqado que as pessoas devam receber quando se dirigem a hospitais ou centros de saúde. E, pela cara de muita gente que ali estava, não me parece que tenha sido «um dia de azar»...

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