sexta-feira, julho 07, 2006

 

Coisas de homens

Faz hoje duas semanas que a minha Ruiva Enlouquecida foi com os porcos e deu lugar à Advogada Alucinada, e eu estou-me MESMO a arrepender da troca!!! Não pelo bólide em si - andar com ar condicionado era algo que até agora desconhecia, e ainda sou tão pacóvia a lidar com ele que metade das vezes o interior do carro torna-se um tornado! - mas pelo comportamento que ele espoleta «numa certa pessoa». Ora vejam:
Os homens queixam-se que as mulheres levam horas a arranjar-se, vão aos pares à casa de banho, ficam doidas nos saldos, compram coisas inúteis, enchem as malas de inutilidades e por aí fora.
Pois bem, eu riposto com base em factos verídicos, a que basicamente se resumiu o meu último fim de semana, que os homens são perfeitamente DOENTES com a limpeza...dos carros!(Calma meninas - não achavam mesmo que o sexo pseudo-forte tinha virado fada do lar, pois não?;)
No sábado passado fui praticamente arrastada da cama para ir até uma garagem - da qual graças a deus nos esquecemos das chaves e portanto não sufoquei durante duas longas horas - depois de ter ido ao AKI comprar plástico a metro, para tirar as medidas e forrar a bagageira para que os pêlos dos cães não grudassem. Valeu-me o Portugal-Inglaterra ser às 16h, senão ainda tinha visto o pôr do sol de tesoura e cola em punho...
Não é que no domingo a cena se repetiu, agora com o argumento de que «o carro precisava de ser lavado» (a última banhoca fora há oito dias...)?! Tudo porque num jantar de família alguém teve a (infeliz) ideia de mencionar umas mangueiras de pressão que «deixam as jantes impecáveis», e como o raio das jantes são «especiais», o homem não resistiu e eu vi-me, numa tarde de domingo, com o belo do programa de panito em punho a secar os vidros, não se faz!!!
Mas o episódio não ficou por aqui. A brilhar que nem um sapato engraxado, levámos o carro para casa. No dia seguinte, o prédio ao lado do nosso foi demolido, e quando cheguei ao carro, mal o reconhecia, tal era a poeirada com que estava coberto (bestial, hem?...) Portanto agora, não só tenho de guiar com os vidros fechados se levar os cães na mala («para não voarem pêlos»), como é preciso estender uma passadeira especial para Suas Excelências saltarem («para a traseira não se riscar»), e fui intimada a estacionar OBRIGATORIAMENTE com dois quarteirões de distância da nossa rua, dia e noite, («e nunca debaixo das árvores, caem folhas»), para «ninguém o riscar».
Não há cú que aguente!

domingo, julho 02, 2006

 

SNS - Serviço Nacional de Sadismo

Finalmente percebi (uma das razões) porque toda a gente foge de fazer análises e check-ups gerais como o diabo da cruz – é que, para além de se levantar cedo, jejuar, beber muita água ou não se lavar, esperar horas em cadeiras tortas só com velhinhos a gemer até ser a nossa vez de as ir fazer, para depois ser picado, apertado, esmiuçado, ou esburacado, e no fim pagar uma pipa de massa com ar de que nada se passa, em Portugal quem não tenha possibilidades (GRANDES possibilidades, por sinal), pode simplesmente definhar até à morte sem que ninguém se importe porque os serviços não se conjugam, e por mais que os governos se revezem, na saúde nada mudam.
Acabadas as aulas, as férias para exames, os exames e as férias grandes de novo, lá tomei coragem para ir fazer um punhado de análises receitadas pela médica.
Aproveitando um destes dias nebulosos que insistem em toldar o céu e encrespar o mar, pelo que tornam de todo impossível qualquer possível investida até à praia, lá me resignei a ir até à clínica onde a médica dá consulta.
Viagem 100% desperdiçada. Uma vez atravessada a cidade, directamente da Estrela até à Estrada de Benfica, fui gentilmente informada que ali não se aceitava ADSE (da qual sou beneficiária), mas apenas MEDIS. O meu ar derrotado deve ter sido tão perceptível, que a secretária me estendeu uma folha cheia de endereços de laboratórios onde de alguns constava a indicação «acordos com ADSE».
Munida desse Guia Analítico, fiz-me à estrada, começando pela «rua das Picoas», por ser a mais próxima. «Oi minina, djiga», saúda-me a recepcionista brasileira. Tento soletrar o nome complicado da análise que quero fazer. «Qui idêia vi aqui agora», responde-me ela num meio sorriso, «Isso daí só dá pa fazê dji manhã, noss djiass úteiss, dás oito e mêia ais deiz». «E onde está o aviso disso?» pergunto eu. «Não istá. Daí eu lhe tá a djizê, pra você não tê qui voltá dji novo, indo imbora sem nada, né?».
É, é. Mais uma investida mal sucedida, foi o que foi. Para além do tempo perdido. Passo então à seguinte análise, que não se podia fazer no mesmo sítio porque «não era da especialidade». Como na folha só aparece o telefone, ligo para perguntar da morada (e já agora inteirar-me que estou no horário certo). Depois de me dizer, com uma voz muito seca e cortante, onde ficava sita a clínica, a telefonista responde-me com um tom de «és mesmo burra, chiça!», quando lhe pergunto se ainda estou a horas de lá ir: «Ecografias só fazemos por marcação». Pergunto então quando têm vaga. «Isso só dia trinta do próximo MÊS», diz ela. «Só pode ser brincadeira» penso eu, atónita e a pensar que, quando tivesse finalmente todos os exames prontos a tempo de os mostrar à médica, estes teriam perdido a validade por deixarem de poder ser considerados «recentes».
Foi a gota de água que fez transbordar o copo, estar-me nas tintas para a ADSE e para a MÉDIS, largar um valente par de contos de réis e marcar tudo para dali a dois dias, na primeira clínica a que fui. Sem deixar de pensar em todos os desgraçados que vivem neste país e precisam mesmo de fazer exames com urgência, devido a problemas de saúde graves que têm, mas sem dinheiro para recorrerem a clínicas particulares. Mas claro que o Ministro da Saúde tem muito mais que pensar. Por exemplo, como encaixar todas as reuniões chatas e jantares «oficiais», a tempo de se escapulir para a Alemanha, a fim de ver as meias-finais do Mundial.

 

Caça à multa

Há cerca de 10 dias tive a (dolorosa porque sentimental) experiência de me desfazer do meu primeiro carro; mas a vida é mesmo assim, feita de mudanças, e já me estou a habituar ao meu novo bólide, e o mais importante – ele a mim!
Conduzindo pela primeira vez pela cidade fora, passei por casa dos meus avós a fim de lhes ir levar um recado. Enveredando pela «Praceta Nuno Rodrigues dos Santos», a Sete Rios, e depois de três desesperadas voltas à mesma a fim de encontrar um lugar de estacionamento, rendi-me às evidências de que, estando o local em construção não havia outra maneira que juntar-me ao caos onde se encontravam os outros carros, perfeitamente alinhadas em cima duma lingueta de passeio que serve para contornar a praça, uma vez que os camiões das obras haviam ocupado por completo a maioria dos lugares destinados aos carros.
Quinze minutos volvidos, e quando torno ao carro, apenas um espaço em branco me aguarda. De carro, nicles. Por momentos, achei que estava tendo uma alucinação, pois não era possível um objecto daquele tamanho eclipsar-se assim, dum momento para o outro, sem uma explicação aparente. E acreditar que mo tinham roubado, parecia igualmente inverosímil.
Ainda tento encontrar algum polícia que me pudesse dar uma explicação, mas como não se avistava vivalma, restou-me percorrer os parques de Lisboa para onde rebocam carros, na esperança de lá encontrar o meu, o que ocorreu à terceira tentativa – óbvio que não esperava encontrar um post-it no lugar vazio a dizer-me onde procurar o que ali estava, mas é demasiado…penoso, diria eu, andar dum lado para o outro, na ânsia de encontrar um automóvel, caramba!
Mas dizia eu, lá dei com o carro no parque na polícia municipal junto da mesquita. Uma vez sentada à frente do Sr. Agente responsável pelo «meu caso», passaram mais 75 minutos até me encontrar novamente ao volante. E desembolsei 90 euros. NOVENTA, leram bem, 30 destinados à polícia, o restante ao Ministério da Administração Interna. A quantidade de recibos e termos de responsabilidade que foram precisos assinar foram inacreditáveis, assim como não dava para conceber como era possível que um departamento da polícia ainda passasse recibos à mão, em vez de os imprimir pelo computador.
Vá lá, vá lá, «Livro Amarelo» já tinham, pelo que pude expressar toda a minha raiva e fúria, por ver o meu carro rebocado em 15min enquanto os restantes – também mal parqueados – lá ficaram mas sobretudo, porque a (ex?) Ministra da Educação habitava num daqueles edifícios e exigia, à data, dois lugares completamente disponíveis à sua porta, para não ter de dar à perna pela praceta fora. Que rico estado (socialista) democrático nós temos…!

 

O desfile anacrónico. Escrito por: um febril (quase) cómico

Há algumas semanas atrás, estava lendo os jornais de domingo quando me defrontei com uma passagem verdadeiramente deliciosa duma socióloga muito conhecida na nossa praça; dizia ela que desde cedo se tinha apercebido padecer dum síndrome que denominou de «snobismo social». “Pobrezinha”, pensei eu, “Que vida infeliz deve levar, uma pessoa de intelecto tão elevado que jamais a maioria dos mortais almejará alcançar…!”
Ontem mesmo, folheava a “Visão” e – espanto dos espantos – não é que descobri que a doença é virulenta, e se espalha qual pandemia das aves?
Então foi assim:
Na sua habitual crónica no periódico, António Mega Ferreira (doravante denominado AMF, ainda que corra o perigo de confundirem o senhor com um milícia armada qualquer) desmonta as marchas populares, parte-as em tirinhas e analisa-as friamente, à luz da sua lupa pseudo-intelectual. Em poucas palavras, enxovalha quem nelas participa e a quem elas assiste, apelidando-as – basicamente – de saloias e antiquadas, para além de profundamente anti-culturais, claro. Sugere que sejam erradicadas da véspera de S. António, e em seu lugar se faça uma espécie de «espectáculo multicultural vanguardista». Pelo menos foi isto que a minha inteligência mediana conseguiu atingir.
O que achei mais piada, e me levou por isso a partilhar aqui esta história, é que estou farta de ler AMF exortando antigos escritores e pintores, músicos e artistas, tudo é Wagner para cá, Eça de Queirós para lá, e a chamada «cultura popular» fica reduzida a uma pimbalhada típica de povoléu, ignorantes de pé descalço, que vibram com factos como Portugal ter sido qualificado para os quartos de final do Mundial e coisas assim.
Porque não experimenta AMF mergulhar de cabeça na cultura que o rodeia e tentar extrair dela algo mais do que críticas presunçosas? Ou será que um dia destes lerei um excerto seu, sugerindo que no S.João, em lugar de martelos e alhos-porros, as pessoas peguem em flautas e trauteiem melodias suaves a noite inteira pela Av.dos Aliados fora, qual Hamlet’s?

P.s. Só mais uma coisinha – «repensar completamente» algo não é uma perífrase (tola) equivalente a «exterminar»? A mim, parece-me que sim. Se pegarmos num evento, e o «repensarmos completamente», quando terminarmos tê-lo-emos «exterminado», somente o nome – a casca – permanecerá. Mas talvez eu esteja enganada, e AMF tenha um jeito inato para a política e ainda não o tenha descoberto…

This page is powered by Blogger. Isn't yours?