sábado, junho 24, 2006

 

Brandos costumes

Para além da mania que o tuga tem, de resolver tudo ao pontapé e enchendo de mimos as Mães de Portugal - ambos comportamentos que no mundo civilizado não levam a lado nenhum - penso que somos, realmente, um povo de brandos costumes. Porque refilamos quando as coisas não existem/não funcionam. Mas quando se criam mecanismos de reclamação, como o "Livro Amarelo", encolhemos os ombros e não o pedimos nem nunca o usamos dizendo que de qualquer maneira «ninguém ia ler aquilo, e - ainda que o fizesse -, não tomaria qualquer providência».
Querem ver um exemplo?
Num destes fins de tarde, fomos - um grupo da faculdade - lanchar ao CCB (não confundir com BBC, pois refiro-me ao Centro Cultural de Belém), um sítio que recebe imensos turistas e portanto serve de protótipo do nosso atendimento ao público em geral. Quando chegou a minha vez de fazer o pedido, encomendei um scone e um copo de leite. Foram-me pousadas as duas coisas num tabuleiro e pedidos dois euros em troca. Admirada com a falta de recheio para o bolo, depois de pagar interpelei a empregada, que me respondeu com um ar muito enfadado:«A menina só me pediu um scone, não foi?»
Estive quase para lhe perguntar se quando pede um garoto também manda vir o leite à parte, mas resignada com a minha (falta de) sorte, lá reformulei o que queria, o que provocou mais umas bufadelas provindas da boca da criatura enfurecida, que rosnou «Então são mais vinte e cinco cêntimos". Lá lhe passei mais meia dúzia de moedas para a mão. Quinze minutos volvidos, dão-me uma malga tipo onde-come-o-cão-tamanho-miniatura, com o mínimo indispensável de doce lá dentro. E eu, literalmente, «comi e calei».
Um amigo que se seguia na fila, pediu uma coca-cola. Como vinha quente, perguntou àquele autêntico BICHO, se não se importava de pôr no copo «uma ou duas pedras de gelo» - não é que a imbecil foi à cozinha e voltou com o copo de tal maneira cheio que era impossível verter nele qualquer gota de líquido?
Mas repito: mais do que a empregada que nos atendeu, o que me irritou mesmo foi a nossa atitude colectiva de passividade perante aquilo. Porque pagámos como gente grande, e fomos tratados abaixo de cão.

 

Velocidade Furiosa - Ligação a Tóquio

O portal "Lisboa Jovem" comemorou, na semana passada, um ano de existência, e para assinalar essa data promoveu a ante-estreia do filme "Velocidade Furiosa - Ligação a Tóquio" no cinema Roma, precedido dum lanchinho (pomposamente entitulado no convite de «canapés»).
À entrada reinava a maior confusão, pois alguns modelos de tunnings haviam sido lá expostos, e muitos transeuntes paravam para admirarem as «bombas». Lá dentro, a fauna parecia retirada das personagens do filme: as palas dos bonés viradas ao contrário, e insistentemente assentes na cabeça, apesar de estarmos dentro de casa, das orelhas dos rapazes pendiam argolas douradas com cruzes de penduro, as calças com o gancho pelos joelhos e nos pés sapatilhas «última geração». Acho que se chama estilo «street wear» e agora está muito em voga.
A pobre empregada de serviço mal conseguia circular na sala com as bandejas cheias, pois ainda não saíra da copa, logo era assaltada por bandos de esfaimados que pareciam não se alimentarem há dias, já que sacavam autênticos punhados de doces e salgadinhos.
Já no interior do cinema, um cartaz curioso no elevador para deficientes informava que aquele estava «fora de serviço» aconselhando os utentes deficientes a procurarem «outros acessos» para entrarem. (Que não existiam, pelo que tiveram de servir as saídas de emergência em caso de incêndio).
O público demorou a acalmar-se, e só o barulho ensurdecedor dos carros a derraparem em curvas de parques de estacionamento, a par do bulício nocturno da capital do mundo Oriental sossegou os ânimos. Para o género de filme que é, está bom - prende a atenção do princípio ao fim, não deixando o espectador «descolar da cadeira» até ao final.
Antes de aparecer o genérico, umas notas chamam a atenção que todas aquelas arrojadas manobras foram efectuadas em circuitos fechados, sempre com duplos, e que nunca deveriam ser tentadas. Muito pedagógico, de facto.
Até porque no dia seguinte, quando ia para a o rio fazer o jogging matinal, me deparei com um choque frontal entre um jeep e um saxo, no viaduto na Infante Santo, que deixou o último desfeito e aquela via cortada por mais de duas horas. Um dos carros havia desrespeitado o máximo de 40kms/h ali imposto, e perdera o controlo. Como este, todos temos - decerto - conhecimento de acidentes provocados por «velocidades furiosas» em que o travão teria ajudado muito.

 

Selecção, a quanto obrigas...

Sempre ouvi dizer que quem corre por gosto não cansa, mas também, o que é demais é moléstia, e antes que a leitura seja interrompida por indigestão-proverbial, passo a despejar o que aqui me trouxe hoje;
Na passada quarta-feira, resolvi ir com umas amigas ao Parque Mayer - agora que está tão na moda as mulheres & o futebol, e já que faltámos a esse recorde prodigioso de conseguir uma catadupa de senhoras desmaiadas, afrontadas e espezinhadas no Estádio Nacional, à conta da «Bandeira Humana» - ver o Portugal # México.
Ainda mal ultrapassara a ombreira do arco da entrada, já me dera o fanico pelo aspecto degradante da coisa: AQUELE monte de destroços a caírem de podres, com um palco todo mal amanhado e um ecrã gigante do tamanho de muitos plasmas caseiros é que era o sítio «oficial» para vermos os jogos do Mundial em Lisboa?! Claro que uma obra a 100% nunca seria possível a tempo de ficar concluída para o início desta disputa desportiva, mas já que aquele fora o recinto escolhido para as transmissões em directo, um bocado mais de decoro seria apreciado!
O sol queimava impiedoso, alto no céu às três da tarde. Os corpos compactavam-se uns contra os outros transpirados, a tresandarem a cerveja, e das bocas saiam os piores despautérios, apesar de estarmos a ver um jogo quase amigável, onde a vitória nem era para nós necessária.
No intervalo já estava desidratada pela falta de lugares à sombra. Uma minoria de SEIS (rigorosamente contados a dedo) mexicanos ficaram no auge aquando da marcação do golo, sendo as suas vozes de imediato abafadas por insultos e palavrões «locais». É deslumbrante, de facto, o «fair play» e desportivismo com que encaramos as competições de nível internacional (de volta ao que escrevi no último post, a propósito do mundo se vir a parecer com um Mundial, nem sei como é que ainda não pensámos nisso antes...!). Se há expulsões de jogadores da equipa contrária, aplaudimos euforicamente; quando se marca um penalti a nosso favor, a mesma coisa; quando um cartão amarelo é mostrado ao adversário, batem-se palmas;
Realmente, ainda existem algumas semelhanças do futebol com o mundo real, onde a satisfação decorrente do infortúnio dos outros chega a ser superior à busca da própria felicidade de muita gente. Uma pena.
Talvez da próxima vez que Portugal jogar vá até ao Porto - parece que no Castelo no Queijo até se está bastante bem, sentadinho numas bancadas, com a brisa do mar e a praia como pano de fundo. E no fim, uma ida às francesinhas, ai Selecção!, a quanto obrigas...

domingo, junho 18, 2006

 

Ainda sobre o Mundial

Acabo de ler um artigo do Kofi Annan, secretário-geral da ONU, a elogiar organizações como o Mundial de futebol, desejando que as Nações Unidas funcionassem à semelhança deste, e só posso concluir uma coisa: a bola deu mesmo a volta a cabeça das pessoas. De TODA a gente!!! Senão vejamos;
Como pode alguém ser tão naive a ponto de achar mesmo que se criam laços de solidariedade profundos num campeonato de futebol, que este é disputado pelo simples amor à camisola/ao desporto, que o espírito é de fair play e de convívio,etc.,etc.,etc.?
Que a ONU não funciona em todos os casos em que está em causa um interesse norte-americano porque foi desenhada de forma a funcionar como um fantoche democrático às mãos deste país, penso que não é novidade para ninguém. E que é duma enorme e abjecta arrogância cultural tentar impôr o mundo Ocidental em toda a parte sem o mínimo respeito pelas outras religiões, credos e povos, em nome da Paz, quando realmente o "P" que a todos importa é o do Petróleo, também é duma hipocrisia que brada aos céus.
Agora, daí até almejar que o mundo se assemelhe a um grande campeonato de futebol, também não sei até que ponto não estaremos a exacerbar as qualidades deste: o Mundial só junta as pessoas durante um mês, e ainda assim são fartos os episódios de pancadaria, manifestações racistas e confusões que se desenrolam no meio de tanta «amizade»; os próprios jogadores, desencam uns nos outros que é uma coisa parva, insultam-se mutuamente num espírito o menos desportista possível e ninguém estaria ali a dar à perna noventa minutos atrás dum esférico com os olhos de meio mundo postos em si, se para isso não fosse pago a peso de ouro.
Estou perfeitamente ciente de que não existem soluções perfeitas, mas seria mesmo este o mundo que desejaríamos para nós?

p.s.Que GOLAÇO aquele que o Deco marcou frente ao Irão, jesus! Oitavos de final: aí vamos nós!!!

 

Jornalismo de qualidade

Admito que possa estar escrevendo isto influenciada pelo "galo" crescente com que fui ficando à medida que os dias da semana se desenrolavam e o tempo piorava a olhos vistos, a ponto de dar por mim sentada no sofá num non-stop de «lanches-cartas-televisão» durante DOZE horas seguidas porque lá fora o dilúvio não paràva, salvo para dar lugar a uns trovões, raios e relâmpagos. Mas os telejornais, com especial enfoque no «Jornal Nacional» estão a tornar-se deprimentes de ver, maus demais!!
A reportagem versava, precisamente, sobre os feriados de Junho a que costumam estar associadas mini-férias, e «...que azar estavam a ter os portugueses este ano». Punham então uma jornalista a passear pelas praias algarvias de microfone em punho seguida do camera-man, perguntando a pseudo-banhistas agora enrolados em toalhas para se protegerem da chuva se estavam a gostar das férias; a miúdos e graúdos chicoteados por ondas de areia arrastadas pelo vento se estavam a divertir-se na praia; no paredão de Faro, entrevistando os (poucos) trauseuntes que com a borrasca se atreviam a sair à rua se estavam a aproveitar bem o passeio, já que «as condições para se bronzearem» não eram das melhores.
Para depois concluir, com um ar muito profissional, de quem dá uma notícia de importância suprema, que «apesar das condições atmosféricas não serem das mais agradáveis, os portugueses resignam-se aos chuviscos e continuam a vir para o algarve, em busca de algum descanso». A isto seguiu-se a notícia de que as milícias timorenses haviam por fim concordado em pousar as armas. (Ainda bem que a triagem do que releva e não releva ser mostrado é tão bem feita. Assim fico muito mais descansada, com a qualidade da nossa televisão).

 

Portugal # Angola

No primeiro jogo de Portugal para o Mundial de futebol, os dias ainda eram de verão no algarve, pelo que as pessoas que lá estavam de férias, como eu, conseguiram ver o jogo «como deve de ser», ou seja: numa esplanada a apanhar sol, e de copo "em riste".
Trajada a rigor (isto das lojas dos chineses a venderem de tudo e mais alguma coisa dão um jeitão - não é que lá fui encontrar t-shirts, tops e cachecóis, bonés, crachás e bandeiras de TODAS as selecções participantes? O que vale é que eu só queria uma coisita para torcer por Portugal...) e devidamente pintada (cortesia dos iogurtes do supermercado, que traziam de brinde o «kit de maquilhagem» para o Mundial) , lá fomos para a marina de Vilamoura, em busca dum bar com ecrã gigante donde desse para ver melhor o jogo do que na nossa televisão (10#15 cms, um espectáculo...)
Como o patriotismo ainda ia em alta, decidimo-nos ficar pelo "Sete", o bar do Figo/Paulo China. Pelo sim, pelo não, ainda que Portugla não vingasse, sempre eram mais uns tostões que o nosso capitão metia ao bolso (podem-lhe fazer falta, coitado, para mais agora que consta que prometeu aos colegas de profissão uma semana de férias pagas, no caso de ganharmos a competição).
Os primeiros 5minutos de jogo foram um "show" de bola, com dois remates à baliza em que num deles se fez o golo, mas no resto do jogo ia adormecendo, e na 2a parte lembrei-me mesmo porque não tinha renovado esta época as quotas para ver os jogos do Sporting: ao ver a Selecção jogar, parecia estar a ver a minha equipa, a ganhar por um triz e ainda assim jogando à defesa, fazendo os espectadores ficarem de coração apertadinho até ao apito final do árbitro.
Que o próximo seja melhor jogado! Amén!

 

Bailaricos

Apesar de ter nascido em Lisboa e de sempre ter vivido na cidade, tenho uma costela saloia, herdada não sem bem de que familiar; o que é certo é que, assim que começa o mês de Junho - e com ele as festas populares - me salta logo o olho para os becos mais castiços, para as ruelas mais apertadas, em busca de sardinhas assadas na brasa, entremeada entalada no pão, um jarrinho de sangria ou uma imperial.
E este ano não foi excepção. Vai daí, na passada sexta-feira juntámos um grupo e fomos espreitar o bailarico do nosso bairro. Na rua do Possolo, nos Prazeres, foi montado um arraial digno de visita; nas instalações abandonadas dum terreno que agora espera licença de construção, barraquinhas vendendo manjericos, farturas, comes & bebes, mesas e cadeiras dispostas ao acaso e um palco montado ao fundo são o cenário para uma noite divertida, passada entre amigos, a jantar qualquer coisa e dando um pé de dança ao som do «Aperta com ela» ou d'«A Garagem» (agora em versão remodelada, em que "de noite, ao serão/ estou até mudando o óleo na garagem do patrão";)

This page is powered by Blogger. Isn't yours?