segunda-feira, maio 15, 2006

 

O dia D

No dia 15 de Maio, às 12 horas e 28 minutos saí da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa "teoricamente" LICENCIADA. Isso significa que se acabaram as aulas, as palestras e os apontamentos, os exames, as pautas e as temporadas a estudar. (Pequeno pormenor: a partir de Setembro, desaparecerão também as férias de Natal, as de Carnaval, as da Páscoa e as de Verão, mas isso é algo sobre que choramingarei mais tarde...)
Apesar de estar há uns bons quatro anos a ansiar por este dia, neste momento não me consigo sentir propriamente FELIZ - talvez por ainda não ter estágio, talvez por ainda não ter «digerido» bem o acontecimento, talvez porque me encontro num consultório dentista, em PÂNICO porque prestes a arrancar um dente do ciso. Para melhorar as coisas, uma gorda vestida de verde-alface (talvez numa tentativa de parecer a própria repolhudinha) descreve alegremente ao telemóvel a uma amiga as anestesias e manobras que está prestes a receber - eu, por mim, dispensava bem pensar muito sobre o assunto até me sentar na cadeira, já me bastou a noite em claro e o dia todo rabugenta, mas há gente para tudo, o que é que se há-de fazer?!...
De qualquer maneira, isto dos dentistas agora virem equipados de net sempre nos permite vazar as nossas últimas angústias antes de desaparecer pelo corredor desinfectado adentro, para os meandros das agulhas e das brocas, donde espera voltar sem dor, e o mais rapidamente possível!

 

«Medeia»

Peça original de Eurípides, traduzida por Sophia de Mello Breyner, está em palco no teatro D.Maria II a tragédia grega da mulher que trai o pai e a Pátria - chegando até ao cúmulo de assassinar o irmão - para fugir com o seu herói e amado Jazeu levar-nos-ia ao emociante desenrolar da sua angústia aquando da debandada de Jazeu de casa para se juntar com a jovem princesa do reino que culmina com Medeia degolando cruelmente os próprios filhos (fruto do seu amor com Jazeu), não fora a injecção de duas horas sem intervalo que o espectáculo tem de duração.
Isso faz-nos, inevitavelmente, perder a atenção porquanto é impossível manter a mesma posição quando ainda por cima o "espaço de manobra" para dobrar as pernas é minúsculo.
Os cenários são pobrezinhos, assim como o guarda-roupa: o pai da princesa assassinada fazia lembrar um vagabundo, no seu casacão de flanela pelos tornozelos e capacete de bicicleta na cabeça (traje, na minha opinião, pouco digno de um rei). Mas os actores são bastante expressivos, especialmente o pajem que dá a Medeia a notícia de que a sua vingança surtiu efeito, e a princesa morreu envenenada (que, salvo erro é Fernanda Lapa, a encenadora da peça).
A sala, em si mesma, é muito bonita - valeria a pena visitar o teatro só para contemplá-la - e o preço dos bilhetes bastante acessível.
No entanto, o problema da não interrupção da representação já acima referido, acrescido da lenga-lenga cantanda pelas aias sempre que termina cada acto, leva a aconselhar a quem pense ir ver a peça uma boa dose de paciência, assim como uma almofada, tudo isto precedido duma boa noite de insónias.

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