quarta-feira, março 29, 2006

 

A Geração «low cost»

Estava eu lendo o jornal, calma e pacatamente, quando dou de caras com um artigo sobre estas convulsões sociais/juvenis que se têm vindo a dar em França, a propósito da nova lei de (primeiro) emprego, que permite o despedimento sem justa causa com um pré-aviso de apenas 2 semanas.
Em França denota-se um franco sentido participativo que em Portugal «nem vê-lo»: as manifestações são vistas como "coisas de arruaceiros" ou "uma perda de tempo, de quem não tem que fazer", claro que assim não vamos longe...
De volta à dita lei, fez-me bastante lembrar os finalistas de Direito, que todos os anos são às centenas, uma vez que esta é a licenciatura com mais cursos no país, que estudam durante cinco anos para depois se verem perante a humilhante situação de fazerem um estágio (obrigatório) de 2 anos muitas vezes não remunerado. Se muitos não têm as habilitações necessárias, a culpa é do Ministério da Educação, que não devia autorizar a abertura sucessiva de privadas com este curso, para além de que devia diminuir o numerus clausus de entradas nas públicas, já que o número de estudantes está a decrescer. Porque não o fazendo, só está a criar expectativas numa micro-população que acabará frustrada, senão explorada.
Mas como a maioria se contenta com muito pouco e já considera que «é uma sorte ter emprego, no estado em que isto está», não se insurgem e trabalham uma média de 10/12 horas por dia, às vezes apenas com subsídio de alimentação, para não perderem a experência e na esperança de um dia «darem o salto». E que tal uma manifestaçãozinha, a propósito dos seus direitos fundamentais como trabalhadores, hem? É que também são jovens que trabalham a recibos verdes, sem qualquer contrato nem garantias de permanência (não sei se estão a ver as semelhanças por demais ÓBVIAS dos dois casos...)
Isto para não falar de situações perfeitamente revoltantes como a discriminação territorial que o nosso portugalinho ainda é tão profícuo - cabe na cabeça de alguém que um Engenheiro Informático se licencie com média de 15 no Porto (tendo tido 19 no projecto final) e fique 6 MESES desempregado porque se muda para Lisboa onde dão, invariavelmente, prioridade a finalistas do Técnico (ainda que com médias e performances inferiores)? Rica meritocracia!

Comments:
Ninguém nega que os licenciados em Direito são no ínicio da actividade, mal pagos, "explorados" no sentido não do trabalho escravo mas sim no sentido de fazerem todo um trabalho "sem paciência" para dizer o mínimo que os séniores não querem fazer. Mas agora pergunto:os que estagiam hoje quando amanhã foram advogados experientes não abusarão também dos estagiários da altura?Ou será que farão eles a diferença daqui a uns anos e fazerem aos recém-licenciados aquilo que gostavam de lhes ter feito?.
 
Do que os outros fariam não posso falar, mas eu trataria os estagiários como GENTE que são!
E, lamento, mas tava mm a falar de trabalho de escravo - ou o que é trabalhar 12h por dia, 5 dias por semana, a 70 cts por mês, cm m ofereceram ontem?!
Falava de Direito e Engenharia porque são os casos que conheço melhor, mas inda ontem à noite ouvi uma cena mto melhor - a Delloite contrata finalistas de gestão que põe a trabalhar das nove à uma da manhã, durante TRÊS dias seguidos, ao que se segue sábado E domingo a picar o ponto às NOVE tb!E n se podem despedir sem pagar centenas de contos, correspondentes a "formação profissional" - fixe, right?!
 
Concordo inteiramente com o assunto abordado neste post.É um dado adquirido que quando existe muita oferta e pouca procura no mercado de trabalho, existe tendência a remunerar-se mal o trabalhador. É inaceitável colocar um estagiário de Direito a trabalhar entre 10 a 12 horas diárias, com um vencimento mensal igual ou inferior a um trabalhador desqualificado. Mas estas situações provêm da mentalidade de "xico-esperto" da maioria dos empregadores nacionais. Para estes se há possibilidade de pagar 5 porque é que se há-de pagar 10. Os restantes 5 serão melhor empregues num último modelo da Porche ou BMW, não acham?
Mas o mais incrivel no horário laboral, é que dessas 10 a 12 horas só cerca de 6 são produtivas, devido à deficiente organização da maioria das sociedades. Este problema advém da nossa cultura, onde de uma forma geral o "desenrascanso" prevalece sobre a "organização", mas enquanto não se mudarem as mentalidades continuaremos a ser altamente ineficientes e como consequência a cauda da Europa!
 
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