terça-feira, maio 23, 2006

 

Sexo Nasal

Cada vez aprendo mais com as entrevistas de emprego a que tenho ido.
Ontem, por exemplo, estava eu pacientemente à espera da minha chamada – do sítio onde me tinha sentado não haviam muitas distracções, mesa com jornais ou revistas, ainda que jurídicos, não existiam, a janela dava para uma fachada lisa das traseiras do prédio vizinho, e nas paredes do átrio da entrada só pendia um quadro meio surrealista (suponho), uma vez que o cavalo nele representado estava decapitado – , apenas distraída pelo zumbido duma mosca que ocasionalmente cruzava os ares, quando a conversa das duas meninas que estavam na recepção, pespegada mesmo à minha frente, me acordou do marasmo em que já havia caído há cerca de meia hora atrás;
A Susana contava à Raquel, na sua voz de ursinho de peluche, boa para fazer as falas de personagens de programas infantis, como tinha sido a sua última escapadela de fim-de-semana com o Hugo, seu namorado.
Aonde foram não sei precisar, mas narrava ela que lá em casa era costume caber-lhe a função de fazer a mala de ambos, e que partilhavam o mesmo necessàire para os produtos de higiene dos dois.
Chegados ao destino, e sendo já noite, está a Susana deitada e o Hugo na casa de banho, quando este lhe pergunta pelo soro fisiológico, porque está meio engripado e o pingo no nariz teima em cair. Já ensonada, a namorada diz-lhe que procure na bolsa que compartilham, adiantando ainda que a embalagem do soro seria transparente e «de esguicho».
(Esta parte a Susana já não contou, mas eu suspeito que o Hugo fosse míope e já tivesse tirado os óculos para se deitar. É importante esta nota, pois só assim se explica o resto da história).
Rendida ao cansaço, Susana dormitava quando o Hugo solta um berro – seguido dum impropério que aqui não reproduzo – e a acorda, aparecendo no quarto agarrado ao nariz e com a boca escancarada para conseguir respirar melhor. Ao que parece, tinha deitado outra coisa qualquer que não soro pelas fossas nasais adentro, que fazia com que a mucosa colasse em vez de desentupir como seria suposto.
Quando a Susana se levanta para ver qual era o drama, e que raio tinha o namorado usado no lugar do soro, descobre o tubo do lubrificante aberto, e perdida de riso manda o namorado lavar o nariz com água morna. Parece que uma nova modalidade do kamasutra estava prestes a ser descoberta por este nosso herói, mas o desfecho não foi o mais feliz, e assim continuamos com as mesmas (monótonas) dezenas de posições para praticar.
Mas obrigada pela temeridade na mesma, Hugo. E pela aventura do «sexo nasal», que me ajudou muito mais a passar o tempo do que a estúpida da varejeira que desenhava círculos no ar.

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