segunda-feira, setembro 18, 2006

 

Ainda sobre picanços jornalísticos

Acho muito democrático da parte dos jornais – diários e semanários – que nos assolam e por vezes forçam até a entrada em nossa casa, com ofertas de vídeos para a família, enciclopédias para os pais mais eruditos, receitas de cozinha para as mães mais extremosas, cadernetas de autocolantes, ímanes e pulseiras para os miúdos, partilharem publicamente as suas desavenças e respectivas farpas com o público que, afinal, sempre é quem os sustenta:
Na semana passada, Vasco Pulido Valente (VPV) escreveu, na sua crónica habitual de domingo n’«O Público» que achava muito mal que PS e PSD se entendessem num pacto referente à Justiça, defendendo depois, à laia de «cada macaco no seu galho», que Governo era Governo, oposição era oposição, e era muito saudável haver sempre esta dialéctica constante que – apesar de gastar um dinheirão aos contribuintes e nunca dar em nada – (o comentário é meu, não de VPV) só assim justificava o «vivermos em democracia».
Quatro dias mais tarde, sai a «Visão», onde no barómetro dos feitos da semana coloca Marques Mendes e Sócrates em altas, com uma setinha verde apontada para cima, elogiando a maturidade dos líderes dos respectivos partidos principais, em terem-se posto de acordo superando as eventuais diferenças ideológicas em prol do «Bem da nação».
Até aqui nada contra. É normal as pessoas terem ideias diferentes, e natural que as manifestem. Mais à frente, num artigo de opinião pessoal de Pedro Camacho (PC), este vem-se juntar à facção desta segunda maneira de ver as coisas, acrescentando no final algo de tão democrático quanto de bom-tom (reproduzo ipsis verbis, uma vez que tenho a revista à frente do nariz «O que não consigo perceber é que exista ainda muito boa gente que olhe para um acordo (…) como se este só por si constituísse um crime contra a democracia. E o pior de tudo é que acreditam mesmo naquilo que dizem. Será que algum dia vão perceber (…) que é preferível…?» Criticam muitas vezes VPV pela arrogância, pessimismo e elitismo no que escreve, mas neste caso, PC não lhe fica nada atrás. Presunção e água benta…

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