domingo, outubro 29, 2006

 

«O JANTAR DO MORTO»

Apesar deste ser um tema que não entusiasma propriamente a maioria das pessoas, é algo que, mais tarde ou mais cedo, acaba sempre por interferir com as nossas vidas, porque afecta algum familiar ou amigo que nos é querido.
Habitualmente, a nossa cultura/religião faz com que toda a cerimónia que envolve o ritual de despedida seja fúnebre e triste, escuro e dramático.
Vêm estas reflexões a propósito de hoje fazerem onze anos que partiu a pessoa mais próxima em termos de grau familiar. Recordo esse dia como se fosse hoje: tinha treze ou catorze anos, e tudo correu como na maioria das outras famílias portuguesas, suponho: lágrimas e tristeza, luto e mais lágrimas, missas, velório e enterro, telegramas de pêsames e telefonemas curtos e de mensagens formais e contidas. E mais lágrimas ainda.
Em conversa com uma alemã, contava-me ela que, quando o avô morrera, a família fizera uma espécie de almoço volante, com todas as pessoas que lhe eram próximas, e durante a tarde contaram-se anedotas e histórias relacionadas com o falecido, e no fim do dia, quando a casa ficou vazia, a família sentira – a par da normal tristeza pela perda recém sofrida, é certo – um aconchego espiritual incomparável a quinhentas missas rezadas ou papéis acumulados com mensagens de «condolências sentidas».
Penso que já todos vimos, pelo menos uma vez, cenas destas acontecerem nos filmes americanos, e – longe de ser uma apologista da sua cultura – acho que esta é uma alternativa bastante saudável ao que estamos habituados, uma vez que aquilo que mais queríamos (a pessoa de volta), é impossível.

P.s. À cerimónia supra descrita, equivalente aos nossos serviços funerários, apelida-se de «Jantar do Morto» (guess que nesta altura já tinham percebido...)

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